Na semana passada falamos de algumas bases e fundamentos da cozinha molecular que são transversais a outros estilo de cozinha de vanguarda.
Hoje vamos abordar um tema, uma técnica muito utilizada em todas as cozinhas. Desde uma cozinha de casa, passando por uma cozinha de um restaurante acabando numa industria alimentar.
Espumas e emulsões
Principais estruturas que conferem
textura:
Olhemos para a tabela acima para ser mais fácil entender
os seguintes conceitos;
Emulsões
Uma emulsão é uma dispersão coloidal
formada por dois líquidos imiscíveis, um dos líquidos (fase descontinua ou
dispersa) dispersa-se sob a forma de glóbulos, no outro (fase contínua,
dispersante) normalmente óleo em água (natas, maionese) ou água em óleo
(manteiga). Água em Óleo (W/O) ou Óleo em água (O/W)
A mistura de água e óleo pode
resultar em 2 tipos de emulsão:
ÓLEO como fase DISPERSA –EMULSÃO O/W
(óleo em água)
ÁGUA como fase DISPERSA –EMULSÃO W/O
(água em óleo)
Uma emulsão feita apenas com óleo e vinagre, a que na
linguagem culinária se chama de vinagrete, é uma emulsão temporária e se forma
apenas por ação mecânica, não sendo estável
A maionese, é um bom exemplo. Com
utilização de uma varinha mágica ou mesmo uma batedeira mistura-se a fase
aquosa com a gordurosa, ficando esta dispersa na fase aquosa na forma de
pequenas gotículas, o papel do emulsionante é impedir que estas gotículas se
agreguem de novo e as fases se separem.
Outros exemplos, de emulsões são a
manteiga (água em óleo) e as natas (óleo em água).
Sabemos também que o processo de emulsificação,
esta inteiramente relacionado com o equipamento mecânico usado. Olhemos para a
tabela abaixo.
As emulsões de composição semelhante
podem ter características muito diferentes segundo o óleo ou água que constitui
a fase continua.
Um exemplo fácil de perceber é o uso
de diferentes gorduras na realização de uma maionese. Ou até mesmo a variação
da proteína usada, um ovo de diferentes animais (exemplo galinha, ganso ou avestruz)
vão ter textura e estabilidade diferentes.
Pode ser difícil entender o porquê de
a maionese ser uma emulsão quando os elementos base são o óleo e a gema de ovo.
Mas se pesquisarmos a constituição da gema de ovo, descobrimos que cerca de 51%
da sua constituição é água.
Entendemos também o porquê de muitas
vezes em casa ser possível fazer maionese com ovos inteiros. Pois um ovo
inteiro é constituído por 75% de água.
Se “pensarmos cozinha” percebemos que
conseguimos fazer maionese só com claras. Pois as claras são 85% água.
Espumas
São dispersões coloidais constituída
por uma fase dispersante sólida ou líquida e uma fase dispersa no estado gasoso.
“Bolhas de
um gás dispersas em líquidos ou sólidos.” Podemos olhar para estas espumas como
uma emulsão de G/W (gás em água).
Estas espumas
existem, pois, água e gás não se misturam. Existem composto que estão presentes
na água, como o nitrogênio, oxigênio, dióxido de carbono e outros componentes que
são solúveis em água, mas apenas uma certa quantidade muito reduzida.
Assim como
as emulsões, as espumas são compostas por duas fases, fase continua e fase
descontinua. Nas espumas a fase descontinua é maioritariamente ar/gás
Traduzindo
na linguagem de um cozinheiro, uma espuma líquida é o mesmo que uma espuma de
café, de cerveja, de um molho e uma espuma sólida é o mesmo que uma espuma de
pão, de bolo, de suspiro, de mousse, de soufflé.
(sendo todos
eles inicialmente uma espuma líquida e devido ao tratamento térmico passa a ser
uma espuma solida. Em muitos deles inicialmente a presença de bolhas de ar é
muito reduzida. E vemos isso pelo tamanho inicial e final do produto, devido à expansão
do ar por ação do calor).
O gás (fase
descontinua ou dispersa) incorpora-se sobre a forma de alvéolos no líquido ou
solido (fase continua ou dispersante).
Tanto as
espumas líquidas, quanto as sólidas, necessitam sempre de um processo de
incorporação de ar na massa para formar a espuma. Mas, além disso, é necessário
que haja um agente tensioativo que permita a formação das bolhas de ar e
frequentemente agentes estabilizantes, estes podem ser o glúten, uma gordura
sólida, etc.
Outros
agentes, também podem ser utilizados para a formação de espumas como a
gelatina, o agar, o xantana, a goma guar, entre outros.
Das
substâncias tensioativas normalmente usadas, como por exemplo, proteínas do
ovo, do leite ou da gelatina, lecitina (gema de ovo).
Podemos
concluir, então, que as espumas podem ser doces, salgadas, quentes, frias,
líquidas ou sólidas.
No caso de
espumas líquidas, a fase líquida é, na realidade constituída por uma mistura de
líquidos com substâncias tensioativas em que é introduzido ar por agitação
mecânica (por exemplo, uma varinha magica) ou são introduzidos outros gases,
com a ajuda, por exemplo, de um sifão.
Existem vários
sistemas que nos permitem obter espumas, um sifão, um motor de aquário, um
sistema a vácuo, uma varinha magica ou até mesmo uma mini batedeira de mão para
realização de espumas nos cappuccinos são exemplo de diferentes máquinas que
nos permitem obter uma espuma, embora que todos eles tenham influência no
resultado final.
Sejam estas
diferenças por estabilidade ou quantidade de ar incorporado.
Espumas vs Emulsões
As espumas e
emulsões são composições muito similares, pois são ambas compostas por duas fases
imiscíveis. De modo geral as espumas são mais instáveis do que as emulsões. Isto
tem uma explicação muito simples.
Primeiro, as
bolhas de ar das espumas são normalmente maiores do que as bolhas de uma
emulsão. As espumas podem conter bolhas
de 0.01mm-0.1mm. Já às emulsões podemos observar bolhas de 0.001-0.01mm. O que concluímos
que são 10-100x menor do que as presentes nas espumas.
Agentes Emulsionantes
Também
chamados de emulsificantes, agentes tensoativos ou agentes de superfície, os
emulsionantes são substâncias que têm a capacidade de atrair e agregar
substâncias que não se misturam (água e gordura, por exemplo).
As moléculas
das substâncias emulsionantes têm na sua estrutura uma zona polar e outra
apolar, sendo que a porção polar do emulsionante é hidrofílica (é atraída para
a água) e fica virada para a componente aquosa da mistura e a porção
hidrofóbica (repelida pela água) é atraída para a componente gordurosa,
possibilitando a união de ingredientes que antes não se uniam. Formando-se
assim, uma película à volta das bolhas de ar da espuma.
Sem a
existência de um agente tensioativo, a molécula de água teria tendência de se
atrair, as bolhas coalesceriam e o ar escapar-se-ia.
É por isso
que as espumas são pouco estáveis.
Os
emulsionantes permitem ainda produzir e estabilizar espumas, ficando a porção
hidrofílica virada para o líquido aquoso e a porção hidrofóbica para o ar que é
introduzido para fazer a espuma.
Existe uma
variedade de substâncias que podem desempenhar o papel de agentes emulsionantes
e estabilizantes de espumas, sem se ter que recorrer aos ingredientes
clássicos. Como exemplo, desses agentes emulsionantes, temos a lecitina, o
sucroester (denominados Sucroemul na marca Sosa), os mono e diglicerídeos
(denominados Glicemul na marca Sosa) e a albumina, podem ainda ser utilizados
outros ingredientes como estabilizantes, por exemplo, alginato, goma alfarroba,
pectina e xantana.
Glossário:
- Tensão Interfacial: Corresponde à energia livre localizada na interface dos dois líquidos imiscíveis originada pela desigualdade das forças de coesão dos dois líquidos intervenientes; quanto maior for esta energia, maior a dificuldade em formar uma emulsão e mais instável será.
- Emulsificação(homogeneização): processo através do qual a fase dispersa é cortada em pequenas gotas (homogeneizadores de alta pressão); aplicação de forças de cisalhamento (corte) que aumentam a área de contato interfacial.
Referências:
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Dissertação de mestrado, FCT/UNL, Ciências gastronômicas .
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